Pequenas e grandes soluções representam fértil campo de trabalho para as consultorias – Jornal Consulte – SINAENCO
Especialistas do segmento da consultoria informam que o aumento de empresas com o direcionamento do foco de seus propósitos para questões ligadas à ecologia acontece em razão da abrangência dos aspectos ambientais e das inter-relações da arquitetura e engenharia com o meio ambiente, urbanismo, economia, sociologia e direito, entre outros campos, e sempre com atuação muito além do aspecto regional. Essa movimentação prova que a mentalidade está mudando: empresas e profissionais estão atentos para a preservação do meio ambiente, como necessidade social – a sobrevivência do planeta e a manutenção dos recursos naturais, finitos, dependem das ações de cada um – e como oportunidade de negócios.
"A questão ambiental ocorre devido a diversos fatores, mas há três pontos predominantes: a real preocupação em evitar danos ambientais, ser ou parecer ser ecologicamente correto e a pressão de órgãos oficiais e reguladores", afirma Roberto Kochen, diretor da GeoCompany Tecnologia, Engenharia & Meio Ambiente, associada ao Sinaenco há pouco mais de um ano.
O que é um empreendimento ambientalmente correto? É aquele que procura, em todas as suas fases de implantação, provocar os menores danos ao ambiente, nos seus componentes físicos, biológicos e sociais. Em particular, do ponto de vista dos recursos naturais, o empreendimento ou processo de fabricação deverá formar parte de um ciclo renovável para garantir o desenvolvimento sustentado.
Se alguns empresários não mudam por livre e espontânea vontade, acabam fazendo-o pressionados e temerosos por leis, hoje muito rigorosas. Com a promulgação da Lei de Crimes Ambientais (No. 9605/98), a responsabilidade criminal passou a ter efeito coercitivo. As penas foram uniformizadas, gradualmente adequadas, e as infrações claramente definidas. A pressão por atitudes corretas vem também de órgãos internacionais de fomento ao desenvolvimento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o World Bank, entre outros. Aspectos ambientais passaram a ser prioritários na análise, seleção e aprovação de projetos para financiamento.
Por que o meio ambiente passou a ser o alvo das atenções? No curso da história o homem sempre se serviu dos recursos naturais e gerou resíduos sem se preocupar com quaisquer conseqüências: tudo era abundante e a natureza aceitava tudo, aparentemente sem reclamar. Com a Revolução Industrial no século XIX, em função da instalação de empreendimentos e de seus produtos os níveis de degradação do ambiente tornaram-se mais evidentes. Crescendo também de forma acelerada, a população mundial contribuiu para acelerar a destruição, sem uma tomada de medida, correspondente, ao menos profilática.
A partir da década de 60 do século passado, a preocupação com questões ecológicas no mundo aumentou. No Brasil, medidas sérias começaram a ser adotadas há 15 anos, quando se estabeleceu a obrigatoriedade dos Estudos de Impactos Ambientais e Relatórios de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA) para o Licenciamento Ambiental de empreendimentos de engenharia.
Ervas daninhas
A globalização intensificou as pressões por um mundo melhor. Surgiram, então, desde medidas de governos, criando, ministérios e órgãos oficiais dedicados exclusivamente ao meio ambiente, até influentes partidos políticos e entidades não-governamentais dos mais diferentes perfis, mas centrados no meio ambiente.
A movimentação da sociedade gerou vigilância e resultou na criação de leis. Em contrapartida, estimulou atitudes extremadas, que vêem em qualquer passo do progresso um risco até mesmo para ervas daninhas. Muitas vezes, essas ações justificam-se. O relatório da Food and Agriculture Organization, por exemplo, revelou que o planeta perdeu 16,1 milhões de hectares de florestas nativas por ano na última década. Nossa parcela nessa destruição é considerável: o Brasil foi responsável por 2,3 milhões desse total. O desafio das consultorias é desenvolver trabalhos que contemplem as duas tendências.
Reconhecidamente inventiva e persistente, a tecnologia nacional que busca a preservação do meio ambiente muitas vezes surpreende. Abdica de soluções óbvias. Na área energética isso ficou flagrante na crise recente. Quase chegamos ao colapso dos apagões. Dois estudos sobre clima e conservação de energia no planejamento e execução de edificações, feitos pela Universidade Federal de Santa Catarina – Dados Climáticos para Projeto e Avaliação Energética de Edificações para 14 Cidades Brasileiras e Eficiência Energética na Arquitetura – mostraram que isso poderia ser facilmente evitado. O uso mais eficiente da luz e ventilação naturais, dispensando lâmpadas artificiais e sistemas de ar condicionado, nos daria uma economia de energia gigantesca.
A mesma fonte classifica nossa arquitetura como a de países temperados. Equipara nossa eficiência à de Bangladesh. Temos uma proporção inadequada de vidros nas fachadas. Janelas, grandes demais, que absorvem calor, exigindo mais refrigeração. Com algumas modificações, a maioria dos prédios brasileiros poderia diminuir em mais da metade os gastos com energia elétrica.
Outro paradoxo: evoluído no reaproveitamento de latas de alumínio para bebidas – com o índice de 82%, superior ao do Japão, que nos dá o título de maior reciclador mundial -, o Brasil vai mal na reciclagem geral. O atual modelo de gestão do lixo, falido segundo empresários, políticos, técnicos e pesquisadores, recicla apenas 1% das 130 mil toneladas produzidas diariamente. Somos o extremo oposto de cidades alemãs, como as da Baviera, onde a cultura da reciclagem vem das primeiras aulas da educação formal, conforme comprovou um grupo de 14 empresários brasileiros, cinco deles representantes do Sinaenco, em visita recente àquela região.
Nossas iniciativas ecológica e ambientalmente corretas limitam-se a algumas universidades e pequenas empresas privadas. Muito disso acontece porque, de maneira geral, não se trabalha com condições ideais. Empresas e profissionais não conseguem dedicar-se exclusivamente aos projetos. Por uma questão de sobrevivência, estudos e pesquisas acontecem paralelamente às atividades cotidianas. Não se consegue chegar a um preço adequado porque a produção não ganha larga escala. Mesmo com todas as dificuldades, há iniciativas interessantes.
Falta informação
Não é só o preconceito e a postura avessa a novidades dos contratantes que impedem o desenvolvimento de um número maior de ações e projetos. Há falta de informação e de educação ambiental, que deveria existir desde os bancos escolares. Essa condição leva a absurdos, como acreditar que conceitos relativos ao meio ambiente só se aplicam a grandes empreendimentos. Ignora-se que, praticado em investidas menores, os resultados podem ser igualmente viáveis.
"Na área de construção devemos pesquisar e trabalhar para tornar possíveis soluções econômicas de obras menos impactantes, tanto na fabricação dos materiais como nas obras que provocam emissões atmosféricas, ruídos, efluentes líquidos, geram desperdício e resíduos sólidos" afirma Pedro Jensen, gerente de meio ambiente da Themag Engenharia e Gerenciamento.
O que a Alemanha pode nos ensinar
Como resultado da visita de 14 empresários que participaram em setembro do seminário Ambitec 2001 sobre tecnologia do meio ambiente, realizado na Baviera, Alemanha, dois especialistas virão ao Brasil para dar palestras na sede do Sinaenco. Martin Grambow, representante do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, fala dia 23 de novembro. Martin Wahl, coordenador da divisão internacional do Centro de Treinamento da Bavária, estará aqui dia 29 do mesmo mês. Wahl vem também firmar um convênio com o Sinaenco para proporcionar um intercâmbio profissional entre os dois países, visando a transferência de know how e aproximação comercial.
Os dois mostrarão soluções ambientais lá praticadas há dezenas de anos. A Alemanha, por exemplo, extrai 90% da água que consome de lençóis subterrâneos e atua rigorosamente no controle dos mananciais superficiais. No Brasil, de toda água distribuída à população, apenas 3% vêm de mananciais subterrâneos.
Temos situações absolutamente díspares, mas há ações que podem ser comuns. Na Bavária, por exemplo, evita-se o uso de embalagem pet, uma solução "moderna", mas absolutamente poluidora. Lá, o plástico praticamente foi abolido. A maioria das garrafas, recicláveis, é de vidro. Cerca de 20 mil indústrias formaram uma organização que gerencia o problema do lixo. Criaram o chamado ponto verde que estabelece direitos e deveres nas questões relativas ao meio ambiente. Envolvida, a população torna-se vigilante e participante.
Soluções pelo Brasil afora
Estudos da Universidade Estadual de Pernambuco indicam que eficiência na queima do bagaço poderia aumentar em 35% com a gaseificação ou redução de sua umidade, que chega a 50%. Associada a catalizadores, como alumínio e zinco, a gaseificação aumenta a produção de hidrogênio e de monóxido de carbono e diminui a produção de dióxido de carbono. O mesmo processo poderia ser utilizado com resíduos agrícolas, urbanos (lixo orgânico) e alguns resíduos industriais, como óleos filtrantes ou saturados, aparas de papel e madeira.
A Universidade Federal de Santa Catarina pesquisa um sistema de bombeamento de água com energia solar para uso rural. O sistema usa um conversor estático eletrônico, que fica numa caixa protegida e também funciona com uma bateria de reserva, com capacidade para suprir a energia na falta de sol por até três dias.
A Universidade Estadual de Campinas tem um módulo de produção de energia que combina sol e vento. A alternativa já funciona em alguns países desenvolvidos, mas dependeria de uma política tarifária para ser viável no Brasil.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo garante que o capim-elefante pode substituir a lenha usada em padarias e olarias ou mesmo o carvão vegetal de altos fornos de indústrias de cimento e algumas siderúrgicas. De origem africana, grande porte e crescimento rápido, o capim chega a produzir em um hectare 200 toneladas por ano. É mais que duas vezes superior ao que se obtém do bagaço de cana.
A substituição do método tradicional de extração do óleo de andiroba, na Amazônia, por uma nova tecnologia que rende 50% mais, possibilitou seu uso em motores diesel adaptados. A alternativa interessa para uso em barcos a motor e nos geradores de eletricidade movidos a diesel.
O Petros, fundo de pensão da Petrobrás, anuncia para 2002 a construção da primeira fábrica de propelente aerossol do Brasil. O produto substitui o CFC, apontado como prejudicial à camada de ozônio.
Até o final do ano o bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, vai ganhar sua primeira lagoa artificial de água salgada que terá uma área de 27 mil metros quadrados. Com adequado tratamento, a água do lago será retirada da Baía da Guanabara.
Depois de construir a Escola Viva, em São Paulo, estruturada em madeira renovável, com telhas de embalagem tetrapak, pisos de fibra e resinas naturais, a RFM elabora um projeto para prédio residencial de alto padrão que terá estação própria de tratamento de esgoto e de captação de água de chuva.
Com a criação da Resotec, a multinacional Holdercim, fabricante de cimento, aposta no aproveitamento do lixo como combustível alternativo para os fornos de suas fábricas no Brasil. A empresa queimou 50 mil toneladas de lixo em 2001, faturando R$ 20 milhões e anuncia que vai triplicar esse faturamento no ano que vem. Estudo da Câmara Brasil-Alemanha revela que esse mercado tem potencial para movimentar R$ 1 bilhão por ano no país.